sábado, 19 de julho de 2008

Filosofia que auto-ajuda. (Dani)

Dizem que a cada sete anos você passa por uma crise. Faz muito sentido, considerando nossa sociedade ocidental onde aos sete você entra na escola, aos catorze na adolescência, aos 21 na vida adulta e por aí vai. A diferença são esses pequenos momentos, ou grandes reviravoltas que acontecem a qualquer instante e não podem ser classificados como uma crise, porque crise implica geralmente em transtornos, em ápices que talvez não se controle.
As reviravoltas (vou adotar esse nome) vêm geralmente de brinde em situações onde você se permite relaxar, onde tudo parece estar sob controle. E de repente você se vê encarando "reviravoltas". E é sobre isso que quero falar. Nietzsche "pregava" (se é que se pode usar esse termo ao falar desse cara) o eterno retorno. E não é o retorno que Deus te proporciona, de viver mais uma vida, uma vida diferente e melhor dependendo de como você se comportou nessa.
Se sua vida fosse um eterno retornar, e esse retornar fosse exatamente igual. Se todas as suas atitudes aqui, agora, se repetissem por toda a eternidade, e você soubesse que isso já tinha acontecido infinitas vezes e ainda iriam acontecer mais infinitas, essa seria sua atitude? Você faria as coisas do jeito que faz hoje? E mais que isso, você deixaria de fazer as coisas que deixa de fazer, por medo, por vergonha ou por preguiça?
Não, eu não estou "pregando" o CARPE DIEM, mas acho que no fundo ele também tem algo a ver com isso. Eu estou falando de uma coisa maior, o AMOR FATI: escolha seu destino, ame seu destino. Quando Nietzsche mata Deus, ele torna-se o único responsável pelo seu destino. Sem culpas, sem uma desculpa de bondade baseada no medo do inferno. Porque nós, em pleno século XXI, estamos ainda presos na fraqueza da Idade Média. O medo de viver não somente por dever explicações à sociedade, mas também por ter que prestar contas ao final da jornada. Além disso, temos em Deus nosso último refúgio quando nossas escolhas dão errado, nos eximando da culpa. Somos pequenas crianças quando isso nos é conveniente.
Ao entender o eterno retorno, tudo fica mais claro. A cada atitude tomada, temos em mente que isso irá se repetir para todo o sempre. Tomando isso como guia, temos a escolha de ter uma vida mais sincera, pra não dizer mais nítida. Começa-se a ESCOLHER nossas vontades, não apenas a ser escolhido. A assumir responsabilidades e a temer as escolhas que deixamos de fazer. O medo, a vergonha, a preguiça, tudo isso torna-se muito pequeno visto da imensidão do infinito. E você começa a ter controle. Controle é igualmente libertador e assustador.
Ainda nessa linha, de ter controle sobre o próprio destino, começamos a ter controle sobre nossas vontades. A vontade é o que guia o homem, tornando-o diferente da multidão, até mesmo da vontade coletiva. Identificar essa vontade é extremamente difícil, pois somos moldados desde a infância por fatores externos. Porém, com um pouquinho de coragem conseguimos distinguir o que é nosso, mesmo que isso nos envergonhe. Quem já não sentiu vergonha ou até mesmo tristeza por querer alguma coisa que atire a primeira pedra. Nossas vontades definem quem nós somos, e quanto mais conseguimos trazê-las a tona, mais estamos mergulhando nessa correnteza que é a vida bem vivida. As vontades podem estar no inconscientes, e somente uns poucos conseguem acessar essa camada, apesar de muitos tentarem. De qualquer forma, são todos corajosos, todos companheiros de jornada, uma jornada menos mentirosa.
AMOR FATI: escolhe teu destino, ama teu destino. Não fomos criados para aceitar imposições, para aceitar moldes, para jogar a culpa em alguém. Não podemos culpar nossa família, nossos amigos, Deus. Eles não têm culpa se não vivemos verdadeiramente, se nao ESCOLHEMOS.

4 comentários:

feppa disse...

"escolher"....atitude que nos faz crescer. Desde criança aprendemos que escolhas tem consequências, e que as mesmas definem nosso futuro.
Sendo assim., é melhor deixar a conveniência de ser criança de lado, aprender a ser adulto e señor do próprio umbigueto!
Se isso trará felicidade, satisfação, dor ou angústia, já é outra questão. Só não se pode ser palavra não dita,escolha não feita.

Unknown disse...

escolha é uma grande ilusão. não é interessante pensar que, se nos sentimos bem, é porque estamos agindo de acordo com nossas quimicas cerebrais viciadas, que nada mais são do que nossa personalidade? ser feliz é uma prisão também. a unica escolha verdadeira é aquela que contra aquilo que nos sentimos bem fazendo. amor fati, carpe diem, deus; nada disso é liberdade. liberdade e felicidade são coisas separadas. controle pode nos fazer feliz e mais completos, desde que sigamos aquilo que nos é requisitado pelo que já esta formado em nosso interior. mas oque formou nosso interior? oque é nosso interior? pode-mos reforma-lo a nossa vontade? de onde vem essa vontade reformadora? e mesmo se pudessemos mudar em essencia, que tipo de vida é essa, em que vamos contra quem realmente somos? isso é liberdade?

... disse...

Ir contra aquilo que nos faz sentir bem só pelo fato de ir contra alguma coisa não quer dizer muito. É negar uma vontade pelo simples fato de que isso trará felicidade. E felicidade, apesar de não dever ser o objetivo final, também não é algo a ser evitado, pode ser uma simples consequência. Liberdade não é mesmo sinonimo de felicidade, até porque elas estão em ambientes diferentes. A partir do momento em que se tenta ir mais profundamente no que seria seu controle e no que seria sua vontade real, despido de fantasias sociais, o ser humano entra num estágio de auto-conhecimento mais profundo que simplesmente negando. Se deixar levar pelos "instintos', na minha opiniao é tão preguiçoso quanto se deixar levar pela mão, no caso. E libertador, no caso, é o fato de ao menos tentar se despir dessas amarras que foram embutidas desde o nascimento.

Luis Signorini disse...

Acho que a renovação é algo tão importante na vida do ser humano quanto sua própria essência. Esta vive em mudança, não há como impedir, e tentar mantê-la a mesma por toda uma vida é uma estagnação burra, uma limitação que vai contra o próprio ato de viver. Deve ser horrível sentir que seu interior já está formado. A vontade de aprender e de conhecer, verdadeira essência do ser humano, nos colocam de frente com escolhas e não é falta de liberdade escolher contra nosso "já moldado interior". Sei que liberdade é algo indeterminável, mas gosto de pensar que ela começa quando não nos limitamos a nenhuma aparente certeza e que ela se mantém enquanto ousarmos questionar tudo e sobretudo nós mesmos. Se chegar o dia em que eu ache que tenho certeza de tudo e que nada mais que eu aprenda possa mudar minha essência, terei certeza de que minha vida perdeu a graça.