domingo, 26 de outubro de 2008

Quem sou eu, o orkut perguntou (Dani)

Eu não consigo. Usar o seu bege, o seu tom ligeiramente rosado. Aquele verde que não é azul nem amarelo. Não consigo me vestir dessa roupa feita de boas intenções e bons modos. Não consigo andar sem rebolar, sorrir sem mostrar todos os meus dentes, gargalhar sem fazer barulho. Eu tento, vira e mexe eu ainda tento. Tento ser comedida, tento ser a garota Faria Lima que entra no prédio mostrando sua impressão digital.
Mas eu não consigo. Não, eu não. Eu sou a mocinha que solta o cabelo, poe a saia e a mochila nas costas, chinelo no pé e vai tomar sol ouvindo música. De óculos escuros. Porque eu acho tudo mais divertido quando estou de óculos escuros. Eu ponho meu Ipod no shuffle, porque eu sou assim. Minha alma vai mudando conforme a música, mas o ritmo tá sempre lá. Eu não vivo sem música, e eu vivo sem pose.
Amar de um jeito desvairado. Não essa coisinha-bonitinha-gostosinha-e-quentinha que as pessoas mandam. Seja educada, senão você não casa. Seja uma boa moça, o que o rapaz vai pensar de você? E o que eu quero mais é conseguir fazer ele não pensar em nada. Eu sou aquela que passa tardes deitada, ou melhor, jogada, esperando uma boa conversa sobre qualquer coisa. Só me mostra que você está tão lá quanto eu.
Eu como até passar mal. Eu durmo até meu corpo reclamar. Danço até minha coluna doer. Corro até meus pés terem bolhas. Eu sinto prazer pelo fato de saber que posso sentir prazer. Eu viajo pra saber que existem outros mercados municipais esperando por mim. Outras praias e outros vulcões. Eu amo vulcões porque eles explodem e ninguém fica a salvo. Eles mostram vez ou outra toda a força que vem de dentro e destrói tudo. Eu sou destrutiva muitas vezes. Porque eu sou arquiteta, gosto de destruir e de construir de novo.
Não sei porque ainda me esforço em conseguir a aprovação. Eu já fui aprovada nas coisas que queria, e com as pessoas que queria. Eu odeio os olharezinhos quem vem de cima e me chamam de nomes feios. Porque toda a inveja e toda a vontade de fazer parte do mundo feito desses nomes feios vem junto com o olhar. Eu odeio as reclamações, a falta de olhar pro mundo. Eu amo as crianças porque não demora muito elas tão sorrindo pra mim e todo o esforço que eu fiz pra não me apegar vai por água abaixo. E eu pego elas no colo e elas me acolhem de um jeito que nem imaginam. Eu amo os cachorros que me dão beijos da forma mais carinhosa que um ser vivo pode dar. Eu não gosto de gatos porque eles têm o mesmo olhar das pessoas arrogantes. E não é desse tipo de arrogância que eu gosto.
Não sei porque ainda me esforço pra guardar meus bichos, todos aqui tão bonitos, como tigres passeando num espaço fechado dentro de mim. Eu quero que eles vejam o mundo, eu quero que eles vejam as cores. E eu gosto das cores do Miró, da força que um traço pode ser. Eu sou as pinceladas do Pollock, eu sou o borrão que vez ou outra se transforma em arte. Eu sempre quis ser Rita Baiana.

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