sábado, 2 de julho de 2011

Conselho (Dani)

Enquanto ele dorme e a insônia me ataca, meu copo de nescau sempre é a melhor companhia para um estômago cansado de tanta fanfarrice. Come melhor essa semana, promete Dani? E eu fico pensando em tantas coisas, em tantas pessoas, em tantos projetos, semana que vem vou pra Santa Isabel, me reconhecer no lugar onde eu cresci e onde eu tive uma família. Me reconstruir. Cada vez que te vejo dormindo sei que você é a família que eu resolvi começar. Pode não ser pra sempre, pode ser. Mas você já é minha família.
E aí começo a pensar em tantas coisas, nessa redefinição de limites, de sentimentos, de considerações. Eu acreditava em tanta gente, conheci umas outras tantas. Em que momento a gente decide não ser a pessoa confortável? Não sei. Mas deve ser por isso que não me pedem conselho. Não estou a fim de te manter na sua posição confortável, quero te levar comigo a sempre rever valores, hábitos velhos e enferrujados. A te tirar dessa inércia. Inércia, inércia, quase uma amiga de tão próxima que ela sempre está da gente... É engraçado, algumas vezes eu espero ver expansão e só vejo recolhimento. Tanto potencial escondido embaixo dessas asinhas fechadas. Tanto vôo.
Há muito tempo eu escolhi a felicidade, o não confortável. Agora escolho o não previsível, porque tanto medo de conflitos? Porque tanto medo de uma simples discussão? O mundo não é uma bolha de chiclete, e nem por isso ele é cinzento, temos vários tons e cores disponíveis pra você. Alô. Calma. Relaxa. Cresce com a gente, vem participar.
Quando você dá limites também dá valor. Isso eu estou aprendendo de uma maneira um tanto quanto dolorosa, na verdade. Quem se importa com a sua vida, na verdade? Quem realmente tá interessado em ouvir? Antes eu escrevia coisas lindas e agora tenho preguiça de ser brother pra no final das contas não ser levada em consideração e aprender a buscar minha alegria dançando de olhos fechados ao som de trompetes e uma banda de jazz. Nada mais irritante do que quando alguém volta de viagem e tudo o que a outra pessoa tem a dizer é: "ah, eu também vou pra lá um dia! Vamos conversar sobre a minha viagem que ainda não aconteceu e provavelmente não vai acontecer e vamos não falar da sua que acabou de acabar? Não suporto ver a sua felicidade, ela me diminui, então vamos não falar dela e vamos seguir falando dos meus sonhos." Eu nunca imaginei que tivesse que guardar pra mim minha felicidade. Nunca. Mas percebi que também é por causa dela que ninguém me pede conselho. E me senti ligeiramente agredida. E coloquei mais um limite. Ok.
Ler Cora Coralina me faz acreditar na mulher, me faz ter plantas e flores, e arrancar pedras. Sontag, essa mulher me faz perceber o quanto é delicioso estudar fotografia, o quanto é possível que essa banalização vire sentimento. Fotografar escombros, resíduos, VIDA. Eu sempre tenho a câmera na bolsa, nunca se sabe. Cara, geografia urbana! Cada dia uma coisa nova e uma pessoa nova, possibilidades incríveis, não saio da usp tão cedo. Tenho escutado música canadense, francesa, africana, brasileira. Rap é muito bom! Visto filmes e documentários que fazem sentido. Refugees All Star, comprem o cd dessa banda por favor. Refugiados de guerra ampliam seus limites. Porque então vejo você sentado no seu canto com seu potencial e seu coração encolhidos na cadeira? Expansão, meu amigo, expansão. Quanto mais energia a gente cria, mais a gente tem. Crie sua arte, mostre pro mundo o quanto tudo isso é bonito.
Se mexa, suba na cadeira, abra os braços e dê um grito bem forte, sei lá. Esse é meu conselho. Aqui eu posso. Quem quiser ler, leu, quem não quiser que vá comer pastel estragado na feira da Vila Madalena.

Nenhum comentário: