quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A cara feia (Dani)

Ela olhou pra mim. Com aquela cara feia, carrancuda. Com aquele olhar cínico, maroto. Com aquela cara de "você não vai conseguir". Eu que sempre voltei sorrindo, voando, flutuando, voltei pesada, amarrada, sofrida.

Não adiantava bar, não adiantava cerveja. Não adiantava amigos, de fora ou de longe. A cara dela não saía de perto de mim. Pela primeira vez foi ruim. Pela primeira vez eu olhei pro que ainda falta, e não pro que já foi. Olhei pro feio e foi tudo ficando ainda mais feio.

Nessa semana eu vi tudo de feio. Todos os comportamentos ruins. E nessa semana eu escrevi que "não quero ver coisas bonitas, eu quero deixar de ver as feias". E era verdade. E pra me livrar disso, acho que me enfiei no mais feio ainda. No terrível. Na cidade destruída. Pelo menos ela é justa, eu ouvi.

Justa ou não, aquela tragédia me deu ar. Porque junto com ela vieram pessoas, sentimentos e sensações. Família. Trabalho. Sentido.

Desde então, a cara feia da pobreza continua tentando. Mas não tem me assustado mais.

Nenhum comentário: