De você eu não quero nada. Não quero elogios falsos, como pequenas prendas antes da notícia ruim. Eu não preciso, e não quero, esse tipo de elogio, esse tipo de “agrado” como se eu tivesse 7 anos e alguém me desse um algodão doce antes de dizer que meu peixe morreu.
Espírito livre? O que é isso pra você? É simplesmente ser alguém que viaja? Que tem vontade de conhecer o mundo? Isso pra mim é curiosidade, é querer ver além do próprio umbigo e além do próprio mundinho. Meu olho brilha com a possibilidade de um mar mais azul, de uma tarde ao sol, de um deserto de sal.
Mas meu olho também brilha com a idéia de passar uma tarde com alguém. De dividir uma cerveja num boteco com melhores amigos. Com a idéia de chegar no ônibus e ter um convite pra praia no celular e isso ser motivo de alegria, mas não mais de faniquito e de mudança de planos.
Meu olho quase se enche de lágrima de tanto brilho ao pensar em amar alguém livremente, como esse “espírito livre” pede. Sem convenções e como disse o segundo ser humano mais otimista que eu conheço: sem que liberdade seja confundida com pornografia. Eu quero ser livre, eu quero poder amar de braços abertos e com braços me esperando.
Seu espírito pode me dar isso? É isso que meu “espírito livre” pede. É isso, não uma viagem, que meu “espírito livre” quer. Amor de verdade, sem medo, sem passado. Não só de um homem, mas de uma pessoa. Seu espírito consegue olhar as pessoas? Seu espírito quer olhar as pessoas? Eu tenho minha vida, e ela é bem brilhante. Nela cabem mundos e fundos, favelas e cidades, prédios de última geração e praias intocadas. Cabem pessoas dos mais diversos tipos, pode acreditar. Não se julgue importante a ponto deu chorar por você, pode ser que isso não aconteça. Mas nunca se sabe, eu posso já ter chorado muitas noites em segredo.
O “espírito livre” é mais uma menina feliz, brincando na piscina todos os dias, mesmo quando está doente. É aquela menina que sobe na goiabeira da escola e fica de ponta cabeça, mas mesmo assim nunca conseguiu ter uma cicatriz. É a menina que sabe brincar de carrinho com a irmã no supermercado. É a menina que troca de roupa com a amiga durante o esconde-esconde. Ela é livre. Eu sou só o corpo que guarda ela, que a protege. Na verdade nós viramos melhores amigas.
Viajar não é nada, entenda. Isso me faz feliz, não livre, acredite. Já viajei muitas vezes e percebi depois que minha alma ficou presa em casa. E meu “espírito livre” me impede de sofrer por muito tempo nessa vida, ainda bem. Meu “espírito livre” sabe do clichê da vida curta e do clichê do carpe diem, ainda bem. Meu espírito já era livre quando eu aprendi a andar de patins numa cidade que não deve ter 20 mil habitantes.
De você eu não quero nada. Na verdade só quero que você, se não conseguir desfrutar de tudo isso junto comigo, sem medos, que pelo menos entenda, respeite e me olhe com um sorriso, sem algodão doce pra menina aí de cima. Porque ela prefere coisas salgadas, obrigada.